segunda-feira, 3 de março de 2014

ASSENTAMENTOS

Assentamentos – Como funciona? 

Recebo diariamente várias mensagens sobre a questão de assentamentos (Igbá – vasilhame que guarda os segredos e fundamentos do Orixá). Eu não posso ditar o que é certo ou errado, o que posso fazer é dizer como funciona em nossa casa, o Egbé L’ajò.

Assentamento de Exú
Exú Orixá, o Bara, é feito ou na iniciação ou na obrigação e um ano.
Exú Catiço, apenas se houver a necessidade ou indicação do Exú da pessoa.

Igbá de Orixá
Na iniciação, é feito montado o Igbá do Orixá do filho e caso haja necessidade, assentamos os demais, que geralmente acontece assim:
- Iniciação (iberê): Orixá
- 1º Ano (Odun kan): o juntó (ojúory)
- 3º Ano (Oxumetá): Etá (terceiro)
- 7º Ano (Odun ejê): O Orixá ancestral (aquele que vem de nossa família)

Igbá Ory
É montado apenas no sete anos, ou se houve a necessidade.

Orixá Ajaláory
É montado para aqueles que vão cuidar de cabeças ou serão células multiplicadoras.

Igbá Odú
É feito caso o filho possua algum tipo de necessidade energética. Exemplo: A vida do filho, mesmo com obrigações, sempre chama confusão, então assenta-se Ofú, para trazer paz, pois essa não é questão de Orixá e sim de energia.

Outros assentamentos, como Iyámin,Babá Egun e etc, são feitos conforme a necessidade de fundamento de um axé.

Muito axé a todos!
Por Babá Diego de Odé - No Facebook.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

AUDIÊNCIA EM FÓRUM CRIMINAL,MAIS UM CASO DE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Audiência ouve testemunhas de crime ocorrido em 2006. A yalorixá Jaciara Ribeiro dos Santos, do terreiro Ilê Abassá de Ogum, vítima de intolerância religiosa em março de 2006, deve ficar frente a frente com seus agressores em audiência na 5ª Vara Criminal, no bairro de Sussuarana em Salvador, nesta quinta-feira (20), a partir das 8 horas. Com repercussão no País, o crime, ocorrido na Avenida Sete, centro comercial da capital baiana, resultou na prisão dos dois camelôs evangélicos Valdinei Dias Santos e Walter da Conceição Ribeiro. Os dois respondem a processo por ofender e tentar agredir a religiosa depois de ouvirem, como resposta à saudação “Jesus lhe ama”, o bordão com referência ao candomblé “Ogum também”. Segundo a testemunha de acusação Raimundo Coutinho, que estará presente na audiência de amanhã, foi o primeiro caso de prisão em flagrante por intolerância religiosa do Brasil. “Presenciei a alteração dos dois ambulantes, de bíblias em punho, a agredir mãe Jaciara”, afirma Coutinho. Para o presidente da Comissão de Promoção da Igualdade (Cepi) do Legislativo estadual, deputado estadual Bira Corôa (PT-BA), o episódio é emblemático por envolver uma família de religiosas com histórico marcado pelo preconceito. “Jaciara descende de Mãe Gilda, do Abassá de Ogum, que sofreu e teve a saúde agravada a partir de agressões como essas, além de invasões ao seu templo e uso indevido de sua imagem em publicação ofensiva”, lembrou o parlamentar. Mãe Gilda morreu de infarto no dia 21 de janeiro de 2000. Seus familiares, liderados por Jaciara, conseguiram reparação por danos morais na Justiça baiana, um marco na luta contra a intolerância religiosa. Na audiência de amanhã, o assessor da Cepi, Marcos Rezende, que é um dos coordenadores do Coletivo de Entidades Negras, acompanhará os depoimentos na Vara Criminal. O que: audiência sobre caso de intolerância religiosa contra mãe. Onde: 5ª Vara do Fórum Criminal de Salvador, na Av. Ulisses Guimarães, 3º andar. Quando: dia 20/10 (quinta-feira), a partir das 8 horas. Fonte: Coletivos de Entidades Negras - CEN

Obs.: Ano - 2011.
CASO MÃE GILDA - INTOLERÂNCIA

Assim ficou popularmente conhecido e divulgado até internacionalmente, a absurda ação de intolerância religiosa praticada pela Igreja Universal do Reino de Deus – Iurd contra a Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos – a Mãe Gilda.
Moradora e fundadora do Ilê Axé Abassá de Ogum, Terreiro de Candomblé localizado nas imediações da Lagoa do Abaeté, bairro de Itapuã, Salvador (BA), Mãe Gilda tinha uma vida discreta desde o ano de 1996 quando fundou o terreiro, iniciando sua prática religiosa naquele local.
A agressão
Mãe Gilda exercia suas práticas religiosas cotidianamente e sua Casa era freqüentada por adeptos moradores da comunidade, como também por aqueles oriundos até de outros estados.
A saga do Abassá de Ogum, hoje emplacada pela atual Iyalorixá Jaciara Ribeiro dos Santos, filha consangüínea de Mãe Gilda, iniciou quando esta resolveu participar das manifestações públicas e populares pela reivindicação do impeachment do então presidente da república brasileira, Fernando Collor de Mello. A campanha ficou conhecida como o ‘Fora Collor’, na década de 1990, e contou com a participação ativa de milhares de cidadãos brasileiros em todo o território nacional contendo diversas expressões, das mais variadas vertentes populares e/ou governamentais, como forma de demonstrar a insatisfação com a situação e garantir a destituição do presidente. Tudo muito divulgado na imprensa, com ampla cobertura na mídia televisiva, escrita e nas demais formas de comunicação.
Entretanto, foi a forma de expressão da Mãe Gilda eleita pela Iurd para atacar o povo do Candomblé na sua crença e manifestação prática da sua religiosidade.
A revista Veja publicou matéria em 1992, em que aparecia uma foto de Mãe Gilda, trajada com roupas de sacerdotisa, tendo aos seus pés uma oferenda como forma de solicitar aos orixás que atendessem às súplicas daquele momento. A Iurd publicou essa fotografia no jornal Folha Universal, em outubro de 1999, associada a uma agressiva e comprometedora reportagem sobre charlatanismo, sob o título: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A matéria afirmava estar crescendo no País um “mercado de enganação”. Nesta reportagem, a foto da Mãe Gilda, aparece com uma tarja preta nos olhos. A publicação dessa foto marca o início de um doloroso, porém definidor processo de luta por justiça da família e de todos os religiosos do Candomblé.
A repercussão
A Folha Universal tinha na época uma tiragem de 1.372.000 unidades, ampla e gratuitamente distribuídas. Ora, inevitavelmente a comunidade local tomou conhecimento da reportagem e, por uma falta de compreensão do que estava acontecendo, até integrantes de sua própria comunidade interpretaram que a Mãe Gilda havia se convertido e estava pregando contra sua religião, pois sua foto estava naquele veículo. Qual a conseqüência disso? O descrédito e afastamento de fiéis! E mais: dada a fragilidade do momento, adeptos de outras religiões sentiram-se no direito de atacar diretamente a casa da Mãe Gilda, agredindo-a e ao seu marido, verbal e fisicamente, dentro das dependências do Terreiro, até quebrando objetos sagrados lá dispostos.
Diante destes fatos, com a saúde fragilizada, Mãe Gilda não suportou os ataques: seu estado piorou e ela veio a falecer no dia 21 de janeiro de 2000.
A luta contra a intolerância religiosa: mobilização e conquistas
Logo após o reconhecimento da agressão à Mãe Gilda, sua filha, Jaciara Ribeiro dos Santos, moveu uma ação contra a Iurd, por danos morais e uso indevido da imagem. Procurados por Jaciara, os advogados de KOINONIA (convênio com a Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia – AATR) passaram a representar a família na ação, por meio da assessoria do Programa Egbé Territórios Negros. O falecimento de Mãe Gilda se deu no dia seguinte em que assinou a procuração constituindo seus advogados para defender o caso, em clara expressão do seu desejo por reparação.
É exatamente a partir deste momento, quando KOINONIA assume a defesa do Caso Mãe Gilda, que o tema da intolerância religiosa passa a ser discutido, numa mudança perceptível no comportamento de diversos segmentos da sociedade, que se engajam nessa luta, se apropriando do tema que há muito tempo precisaria sair do anonimato.
Após o período de luto e de atividades sucessórias, assumiu a Iyá Jaciara.
Atualmente, como forma de reconhecimento, inicialmente do Município de Salvador e posteriormente, do Governo Federal, foi instituído o 21 de janeiro como o Dia de luta contra a intolerância religiosa. Data em que pessoas de diferentes credos, raças, etnias, sexo celebram mais um passo a favor da dignidade humana para compartilhar caminhos que possibilitem o enfrentamento a essa vergonha, que se alastra de forma ampla, geral e irrestrita: a Intolerância Religiosa.  Esta forma nefasta de impedir a livre expressão religiosa individual e coletiva garantida por lei, é desrespeitada por vários setores da nossa sociedade. Inclusive por instituições religiosas que, apesar de pregarem princípios de amor ao próximo, solidariedade e respeito, não estão devidamente preparadas para responder a esse desafio e acabam por demonstrar preconceitos e descriminar a partir de posturas institucionais, como o caso de Mãe Gilda, que hoje serve de inspiração e símbolo de luta para todos nós.
Cinco anos depois do início do processo, em 2004, a Iurd foi condenada em primeira instância, ficando estabelecido o ganho de causa da ação de Mãe Gilda. A sentença,  favorável à ação indenizatória, pode ser descrita resumidamente:
  1. Condena a Iurd e a sua Gráfica a publicar a sentença na capa e encarte do Jornal Universal e por duas tiragens consecutivas;
  2. Condena a Iurd e a sua Gráfica a indenizar a família em R$ 1.372.000 (fazendo a equivalência de R$ 1,00 para cada exemplar da Folha Universal distribuído), reajustáveis pelo Inpc desde 1999;
  3. Determina que o Ministério Público abra processo criminal contra a IURD.
Em apelação na segunda instância – Tribunal de Justiça da Bahia – pela Igreja Universal e sua gráfica, o processo ficou sem resposta até maio de 2005, quando o povo do Candomblé realizou um ato público em frente ao Tribunal de Justiça da Bahia para reivindicar a agilização da decisão do tribunal.
Em 6 de julho do mesmo ano, saiu a decisão sobre o caso:  o Tribunal de Justiça da Bahia julgou e condenou, por unanimidade, a Igreja Universal do Reino de Deus por danos morais e uso indevido da imagem da Iyalorixá Mãe Gilda. O resultado do julgamento ratificou, por unanimidade, a decisão da 1ª Instância, apenas reduzindo o valor da indenização para R$ 960.000,00.
A sessão do julgamento foi assistida por dezenas de pessoas, entre familiares e amigos de Mãe Gilda, freqüentadores de Terreiros de Candomblé, militantes de movimentos sociais, estudantes e jornalistas que foram agraciados com o reconhecimento de que a condenação estava relacionada a um caso inquestionável de intolerância religiosa. Assim, a sentença configura não só a vitória de uma causa pessoal, como também coletiva: para todos aqueles que acreditam na convivência harmônica e respeitosa entre as religiões.
Insatisfeita com o resultado, a Iurd recorreu da decisão, apelando para Superior Tribunal de Justiça – STJ em Brasília, bem como ao Superior Tribunal Federal – STF. Este último não aceitou o pedido, julgando-o improcedente.
Após 9 anos de luta e diversas mobilizações públicas reivindicatórias do desenrolar do processo, no dia 16 de setembro deste ano de 2008, saiu a decisão da 3ª instância: o Superior Tribunal de Justiça confirmou, também por unanimidade, a condenação da Igreja Universal do Reino de Deus, em que esta fica obrigada a publicar retratação no jornal Folha Universal, e a pagar indenização,  reduzida de R$ 1,4 milhão, conforme decisão da 1ª instância, para  R$ 145.250,00.
A enorme redução dos valores arbitrados para pagamento indenizatório merece questionamento. Sendo quantia modesta para os padrões da referida igreja, não causará impacto relevante em seus cofres, e, portanto pode não cumprir a função de evitar ataques futuros. Apesar disso, reconhecemos que a sentença representa um ganho político e social sem precedentes na história do País, que vem reafirmar os direitos garantidos pela constituição brasileira da liberdade de expressão e contra qualquer tipo de discriminação. Trata-se, portanto, da vitória de um povo que, historicamente, sofreu e ainda sofre este e outros tipos de preconceito; que mesmo depois de cessadas as perseguições policiais ainda continuava sem liberdade de expressão religiosa.
O processo ainda está em fase de recurso, porém a vitória é certa e merecida na luta contra a intolerância religiosa!
Jussara Rego, assessora e coordenadora regional do programa Egbé Territórios Negros de KOINONIA.

Box:
Da legislação
Constituição Brasileira:
VI. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias;…
VIII. Ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Código Penal:
Título V, Cap.I “Dos crimes contra o sentimento religioso (ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo).
Art. 208. Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso.




segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Qualidade: Yemanjá Ogunté

Uma das qualidades mais intrigantes da família do mar: Yemanjá Ogunté.


Yemanjá Ogunté é cultuada na África, na região de Abeokuta, e Oyó, e seu nome é devido ao rio Ogun, que percorre região, no qual ela é a orixá patrona, sendo assim recebeu dois nomes: Yeyê Omo ejá òdò Ogun té, Mãe dos filhos peixes do rio Ogun, ou então Yemanjá Ogunte Ogunmasomi. Pela denominação Ogun, aqui no Brasil, a cultuamos como mulher de Ogun Alagbedé, o ferreiro. Jovem e guerreira, é tida como a filha que protege Olokún, Deus dos mares, vive na areia molhada e nos recifes.
Rancorosa, severa e justiceira, tem da estreita ligação com Babá Egún, daí vem à questão do seu animal favorito, o carneiro.

Mitologia:
Yá ogunté, é a quarta filha de Olokun, ainda muito nova, casou-se com Ogun Alagbedé, e teve Ogum Akorô Onigbé, após a Ogun se retirar de Ilè Ifé, se apaixona por Odé Erinlè, o enfeitiça, e o leva para sua casa, ensina a ele a arte da cura e da magia, após algum tempo Erinlè decide ir embora e ela corta sua língua para que ele não conte os segredos que ela o ensinou. Em muitos axés, ela também luta ao lado de Oxaguiã e tem papel importante na fundação de Ejibò.

Suas Roupas:
Carrega azul claro, azul marinho, rosa e azul turquesa. Em alguns períodos, deve vestir branco, pois como dizem os antigos, isso a acalma. Nas mãos carrega a ofangi (espada) e a abebé, podemos também enfeitá-la com uma penca que contenha seus símbolos, o peixe, a estrela, a espada, a meia lua, assim como os brajás de búzios.

                                                                    Rio Ogun - África
Com quem Ogunté caminha?
Temos que deixar claro, que uma qualidade de Orixá, muitas vezes tem caminhos diferentes, conforme a ancestralidade do filho, assim uma pessoa de Ogunté, pode ter como ojúory, Ogun, Odé ou até mesmo Xangô, pois não devemos se esquecer de onde vem o culto desse Orixá (região de Oyó). Essa é uma questão que intriga muitos dos filhos de Yáogun, pois erroneamente divulgam que ela só vem com Ogun. Outro ponto que vale discutir, é sua ligação com o odú Yorossún, isso por vários motivos, além de reger quase todas a qualidades de Yemanjá, Yorossún, representado pelo n.º 4, também faz analogia ao fato de Ogunté ser a quarta filha de Olokún, de ser acompanhada por 4 Orixás (Ogun Alagbedé, Ogun Akorô, Odé Erinlè e Oxaguã).
 Fonte: Babá Diego de Odé

"lembrando também que ogunté é independente, ela não é uma Yemanjá, ela foi classificada pela a família das aguas por seu culto e seus fundamentos se perderam com o passar dos tempos. E que Ogunté raramente incorpora ou tem homens como filho", Segundo um irmão.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A ENCRUZILHADA EM ALGUMAS CIVILIZAÇÕES

A tradição das várias civilizações reconhece as encruzilhadas como locais de encontro com o mundo dos espíritos e das assombrações e, por isso, foram edificados nestes locais toda uma grande variedade de monumentos, tais como pedras, menires, obeliscos, altares ou capelas. Os astecas acreditavam que as encruzilhadas eram locais assombrados pelas mulheres mortas de parto. Em África, o cruzamento de caminhos é um local sagrado quando ritualizado pelas tribos, servindo quer de ponto de contacto com os deuses através dos feiticeiros quer de local de homenagem, onde são colocadas oferendas, comida e mesmo sacrificados animais. Algumas tribos africanas consideram as encruzilhadas como sítios onde se podem ver livres das más energias que possam assolar a aldeia e os seus habitantes. A terra das encruzilhadas é utilizada como ingrediente de mezinhas e amuletos de sorte. A encruzilhada tem ainda uma grande conotação com os rituais de fecundação da Natureza e da mulher, sendo nestes locais colocadas as primeiras colheitas e também onde as mulheres terminam o período de aleitamento dos seus filhos e a respetiva proibição de atividade sexual. Esta tradição dos espíritos das encruzilhadas foi levada pelos negros africanos para as Américas, onde ainda hoje subsistem em rituais de vodu, candomblé, umbanda, em Cuba, no Haiti ou no Brasil, tendo como espírito das encruzilhadas Ellegua, Legba, Esu Elegbara ou Exu. Na mitologia ocidental, a encruzilhada é também um ponto de encontro com o destino, simbolizado no mito de Édipo. Foi numa encruzilhada que Édipo inadvertidamente matou o seu verdadeiro pai, Laio, determinando toda a sua vida futura e a sua desgraça. A encruzilhada existe também simbolicamente no íntimo dos seres humanos, no cruzamento de emoções e sentimentos díspares e nas decisões a tomar. Este aspeto está patente na personalidade tripla de Afrodite, a deusa que é simultaneamente casta, fecunda e lúbrica, sendo esta sua última faceta revelada nas encruzilhadas onde ela protege os amores impuros. Na Grécia, Hécate era a deusa das três cabeças protetora das encruzilhadas por ser a senhora do céu, da terra e do inferno, comandando o nascimento, a vida e a morte. Os romanos prestavam homenagem aos Lares nas encruzilhadas, onde se levantavam altares e outros monumentos de adoração, bem como bancos para que as pessoas pudessem parar e refletir. Das tradições da Europa medieval ficaram as crenças das encruzilhadas como locais onde se encontram as bruxas e os espíritos malignos e daí a construção de capelas, oratórios, alminhas, estátuas de santos e da Virgem e cruzes. Em resumo, todas as crenças associadas com as encruzilhadas exprimem o medo humano pelo desconhecido tanto exterior, do mundo dos infernos, da terra e do céu, como do interior da alma humana, onde a encruzilhada nunca é um fim mas um novo ponto de partida para um novo desconhecido.