domingo, 22 de maio de 2011

Rumbê - O transe

Domingo, 22 de Maio de 2011.

Eu tava pensando em algo para escrever que realmente ajudasse os abiãs, ou até mesmo os yaôs, e decidi falar hoje sobre “transe”, vulgarmente chamado de “baixar o santo”. Todos nós que hoje recebemos nosso orixá, sabemos que não é apenas ligar um botãozinho e ir. Não! É um período muito delicado, antes de passar por esse passo, temos dúvidas, mas quando passamos surgem dez vezes mais de perguntas e sobre isso que vamos discutir.

Primeiro que temos que entender que o transe em seu orixá, é particular, não existe receita. Mas temos como tentar ajudar o filho, o irmão. O que é receber a energia do orixá? Quando somos iniciados, ou até mesmo antes, entramos em contato com a energia do orixá, através do estado de transe, onde perdemos os sentidos e através da nossa matéria essa energia se manifesta, lembrando que o transe está presente em quase todas as religiões.

A quem diga que não é correto um abiã receber seu orixá, eu já vejo por outro ponto de vista, acredito que para o santo não tem regras, por mais que queiram impor. Baseamos-nos lógico nos ensinamentos dos mais velhos, porém temos que nos atentar às exceções.

Todo o ato da iniciação consiste em ligar você a seu orixá, por isso que primeiro tiramos o ebó, para que nenhuma energia negativa possa atrapalhar bory, para preparar o ory e barué para realmente invocar essa energia e te reconstruir o cordão umbilical que te liga com passado, com o divino. Após esse período o iniciado, terá os prefurés, onde aprenderá a dança, as cantigas e também a lidar com a energia do seu orixá. Só que tudo isso não mecânico assim, temos que ter carinho e cuidado, afinal começa surgir dúvidas, como: Será que eu recebo?...Será que é o orixá, ou eu mesmo?...Será que estou mentindo, ou fingindo? – Esses questionamentos são super normais, não fique com medo de falar.

Antigamente, os mais velhos nos ensinavam que quando estávamos em transe, não poderíamos ouvir ver ou lembrar-se de nada, senão não era santo, e com isso o Yao crescia com essa idéia, e muitos até desistiam da religião, com o passar do tempo, fomos abrindo a cabeça e como disse antes o transe é muito particular. Eu acredito que o fato de você enxergar ou ouvir quando está em transe não quer dizer que a presença do seu orixá não está ali. Temos que entender que essa energia vem da natureza, do ar, da água, do fogo e é muito forte, se ela te tomasse por completo, você provavelmente não sobreviveria, afinal imagina nosso corpo tão limitado ser capaz de absorver o poder de um vulcão. O que recebemos é uma energia como um fio de cabelo que tomar todo nosso corpo. E quando “fazemos o santo”, aprendemos a não colocar nossa vontade na frente da vontade do orixá, por isso criticam o fato de um abiã receber orixá, ele não estando preparado pode influenciar colocar na frente o seu querer.

Outro fato que ouço bastante é a vergonha, do orixá não saber dançar, ou fazer algo errado. Não tenha medo! – Só coloque na sua cabeça que o orixá usa seu ory, seu corpo, e seus sentidos, então por não se intimide. Vou falar uma frase que ouvi de uma grande zeladora: “Orixá é como uma pedra bruta, precisa ser lapidada com carinho”. Vou você nunca perguntou por que o mesmo orixá, dança de maneira diferente de casa para casa, de nação para nação?

O importante é que você se doe realmente, treine as danças se esforce para que quando seu orixá chegue, seu corpo esteja preparado para receber essa energia tão fantástica, não enigmática. A quem diga que não gosta de receber “santo”, eu gosto é como se fosse um ebó para mim. Uma dica que eu dou para sua vida religiosa, é que nunca fique com dúvidas, sempre pergunte sobre tudo, só o conhecimento nos tira do mar de superstições no qual ainda está mergulhado o candomblé.

Um abraço e até a próxima.

Jogo de Búzios


Olá a todos! Hoje vou falar sobre algo muito importante dentro da nossa cultura, o Jogo de Búzios, mas já vou adiantando que não vou falar sobre odulogia e sim sobre a importância de sua consulta.

Para muitos de nós do candomblé o jogo de búzios foi o primeiro contato com o divino, com o nosso orixá, ali conhecemos quem é nosso caminho, e o que ele tem a nos oferecer. O jogo de búzios, formado por 16 búzios abertos e 1 búzio fechado, como tudo em nossa religião, foi feito de resistência, e com o passar do tempo foi aprimorado. Existem dois pontos de vista, que se divergem quando o assunto é a consulta ao oráculo e aqui vou expor as duas opiniões:

A quem diga que o jogo de meridilogun, é meramente matemático, onde cada “caída” representa um odú, e o zelador em sua experiência interpreta o significado desse odú na vida do consulente, e outros que dizem que mesmo você usando o odú como referencia o que vale é a vidência, enfim, já ouvi muitas discussões sobre isso, porém eu acredito que se o jogo de búzios fosse apenas vidência, não precisaríamos tomar “sete anos”, para poder jogar. Creio sim na inspiração que vem do orixá, porém a receita é um pouco mais complexa, podemos dizer que é inspiração divina, vivência no candomblé, experiência de vida e odulogia.

Em toda minha vida eu joguei apenas com 3 pessoas, por achar que uma consulta com Ifá, é muito importante, sua vida está aberta diante daquele sacerdote, existe ali uma cumplicidade, você tem que realmente confiar. Um Odú, que seria como um signo tem vários significados, por isso é importante que haja uma troca entre o consulente e aquele que está jogando, isso facilita muito. Já vi pessoas que foram jogar e saíram falando que testaram o pai de santo e que e ele errou, veja bem, você procura uma pessoa, paga em média de R$ 50,00 a R$ 200,00, para ficar testando? Não, primeiro você tem que ver a procedência do zelador. Existe uma passagem em Ifá que diz que para entrar em contato com Orumilá, temos que caminhar direito em nossa vida, pois sem isso não podemos aconselhar ninguém. Eu mesmo quando estou chateado, ou nervoso, não jogo búzios, acredito que minha energia irá influenciá-los, afinal sou eu quem vai interpretar e passar ao filho ou cliente o que o orixá está querendo lhe dizer.

Como todo oráculo, o jogo de búzios não diz o futuro, ele apenas lhe dá caminhos e diz a conseqüência de suas atitudes hoje, para nós existe sim sina, destino, mas Ifá nos mostra como cumpri-lo da melhor forma, sem maiores danos.

Mediante ao que escrevi acima, espero que você que é simpatizante ou adepto da religião, leve uma consulta com os búzios, muito a sério, pergunte ao orixá apenas o que é pertinente, não faça perguntas descabidas, como por exemplo: “Será que no meu primeiro encontro eu devo vestir rosa ou roxo?”, pelo amor de Oxalá né! Você ri? Acredite essa é apenas uma das pérolas que já ouvi.

Tenha uma ótima semana e um beijo no coração.

Qualidade - Odé Danadana

Domingo, 22 de Maio de 2011.

Olá a todos! Hoje, decidi escrever sobre uma das mais fascinantes qualidades, Odé Danadana, senhor da noite e do mistério da mata fechada. Espero que gostem!


Para muitos, um orixá a parte, existem vários mistérios em torno desse caminho. Os antigos dizem que Danadana seria o único odé que enfrentou a morte e não a teme, tem fundamento com Exu, Ossãe e Oyá, está profundamente ligado a noite.

Seus presentes são entregues entre a 1h e 3h da manhã, nos caminhos estreitos e fechados das matas. Seu grito (ilá) imita um gavião. Sempre colocamos junto às frutas entregues a ele, um cabaça com otin (água ardente) e outra com farinha de mandioca e fumo de rolo, assim como acarajés.

Suas roupas e aparamentas, geralmente são rústicas, com imitações de peles, pode usar o azul ou até mesmo em suas roupas podemos colocar o azul noturno, fazendo alusão à noite. Carrega Ofá e Erú, mas também pode carregar uma lança de madeira, ou até mesmo um ogó pequeno, segundo os mais ortodoxos usa chapéu de coro, enfeitado com peles negras.

Seus filhos têm sorte quanto a emprego e a dinheiro, sendo ótimos comerciantes. E tudo que é oculto os intriga. Tem poucos amigos, mas muitos seguidores, por serem inteligentes e convictos em seus ideais. São ótimos feiticeiros, porém muitas vezes não conseguem colocar limites em seus atos, contudo buscam sempre o aprendizado com as experiências, porém nunca esquecem quando são ofendidos.

Um abraço a todos!

domingo, 8 de maio de 2011

Qualidades do Orixá Xangô

As suas cores são o vermelho e branco.
A sua saudação é: Kawó kabiyèsílé! – Venham ver o Rei descer sobre a terra!
Na sua dança, o alujá, Xangô brande orgulhosamente seu oxé e assim que a cadência se acelera, ele faz um gesto de quem vai pegar num labá (sua bolsa) imaginário, que contém as pedras de raio, e lançá-las sobre a terra.
QUALIDADES
Alufan: É idêntico a um Airá. Confundido com Oxalufan. Veste branco e suas ferramentas são prateadas.
Alafim: É o dono do palácio real, governante de Oyó. Vem numa parte de Oxalá e caminha com Oxaguian.
Afonjá: É o dono do talismã mágico dado por Oyá a mando de Obatalá; é aquele que fulmina seus inimigos com o raio. Come com Yemanjá sua mãe. Patrono de um dos terreiros mais tradicionais e antigos da Bahia, o Axé Opô Afonjá, é o Xangô da casa real de Oyó. Nesse avatar Xangô Afonjá é aquele que está sempre em disputa com Ogum. Um dos mitos que relata tal passagem nos conta que Afonjá e Ogum sempre lutaram entre si, ora disputando o amor da mãe, Iemanjá, ora disputando o amor de suas eternas mulheres, Oyá, Oxum e Oba.
Aganju: Significa terra firme. Tem perna de pau e é casado com Yemanjá. É o filho mais novo de Oranian. É o mais cruel, é aquele que leva o coração do inimigo na ponta da lança, é o Xangô amaldiçoado que matou e comeu a própria mãe.
Agogo / Agodo / Ogodo: Muito ruim e brutal, inclinado a dar ordens e a ser obedecido, foi ele quem raptou obá. Come com Yemanjá. Neste caminho; Xangô segura dois Oxês (machados). Sendo o seu èdùn àrà composto de dois gumes e é originário de Tapá. É aquele que, ao lançar raios e fogo sobre seu próprio reino, e o destrói.
Baru: Veste-se de marrom e branco. Conta o mito em que Xangô recebe de Oxalá um cavalo branco como presente. Com o passar do tempo, Oxalá voltou ao reino de Xangô Baru, onde foi aprisionado, passando sete anos num calabouço. Calado no seu sofrimento, Oxalá provocou a infertilidade da terra e das mulheres do reino de Baru. Mas Xangô Baru, com a ajuda dos babalawos, descobriu seu pai Oxalá preso no calabouço de seu palácio. Naquele dia, ele mesmo e seu povo vestiram-se de branco e pediram perdão ao grande orixá da criação, terminando o ato com muita festa e com o retorno de Oxalá a seu reino. Assim seus descendentes míticos agirão sempre como um jovem desconfiado, ambicioso, elegante, teimoso, hospitaleiro, galante; neste avatar, e somente neste, Xangô surge como um rei humilde e solidário com a causa de seu povo.
Badè: É o mais jovem vodum da família do raio, cujo chefe é Keviosso, corresponde ao Xangô jovem dos nagos. É o irmão de Loko. Usa roupa azul com faixa atada atrás.
Jakuta: É aquele que atira as pedras, é a encarnação dos raios e trovões. É a própria ira de Olorun, o Deus criador. É o senhor do edun-ará, a pedra de raio. Conta o mito que o reino de Jacutá foi atacado por guerreiros de povos distantes, num dia em que seus súditos descansavam e dançam ao som dos tambores. Houve muita correria, muita morte, muitos saques. Jacutá escapou para a montanha seguido de seus conselheiros, donde apreciava o sofrimento de seu povo. Irado, o rei chamou sua mulher Iansã, que, chegando com o vento, levou consigo a tempestade e seus raios. Os raios de Iansã caíram como pedras do céu, causando medo aos invasores, que fugiram em debandada. Mais uma vez, Jacutá fora acudido por Iansã, e mais, sua eterna amante deu-lhe, dessa feita, o poder sobre as pedras de raio, o edun-ará. Gente de Jacutá tem espírito de um velho pensador, justiceiro, incansável, brutal, colérico, impiedoso, preocupado com a causa dos outros.
Koso ou Obacossô: Em sua passagem pela cidade de Kossô, Xangô recebe o nome de Obacossô, ou seja, o rei de Kossô. Conta o mito que, depois de passar pela terra dos tapas, Xangô refugiou-se na cidade de Kossô, mas a dor de haver destruído seu povo, levou o rei a suicidar-se. No momento da morte de Xangô, Iansã chegou ao Orum e, antes que Xangô se tornasse um Egun, pediu a Olodumare que o transforme num orixá. Assim Xangô foi feito orixá pelo pedido de sua mulher Yansã. Os filhos de Obacossô são serenos, tiranos, cruéis, agressivos, severos, amorosos, moralistas.
Oranifé: É o justiceiro, reto e impiedoso, que mora na cidade de ifé.
Tapa: É muito conhecido pelo seu temperamento imperioso e viril. Não perdoa os erros de seus filhos.
Airá Intile: É o filho rebelde de Obatalá. Airá Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá. É dele o mito que conta a primeira vez que Airá Intilé se submeteu a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas que Obatalá desfez e alternou as contas encarnadas com as contas brancas dos seus próprios colares. Obatalá entregou a Intilé o seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar o mito, Obatalá fez com que Airá Intilé o levasse de volta ao seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas. Neste caminho, Airá Intilé dá aos seus filhos um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.
Airá Igbonam (Agoynham) ou Ibonã: É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.
Airá Mofe, Osi ou Adjaos: É o eterno companheiro de Oxaguiã.
Alguns constam ainda Oranian, que seria seu pai; Dadá seu irmão, Aganju um dos seus sucessores, Ogodo que segura dois oxés, sendo o seu èdùn àrà composto de dois gumes e é originário de tapá; Os Airá seriam muito velhos, sempre vestidos de branco e usando segi (contas azuis) em lugar dos corais vermelhos, e seriam originários da região de Savê.
Existe também opinião formada por muitos, baseada na mitologia e nas diversas fontes sobre as origens de Xangô, que Oranian seria seu pai; Dadá seu irmão, Aganju um dos seus sucessores, e Ogodo, o que segura dois oxés, sendo o seu èdùn àrà composto de dois gumes e é originário de tapá.
Os Airá são as qualidades de Xangô muito velhos, sempre vestidos de branco e usando segi (contas azuis) em lugar dos corais vermelhos, e serão originários da região de Savê. Há no entanto actualmente quem considere que Airá seria um Orixá diferente e não uma qualidade de Xangô. Esta questão requer ainda algum estudo e pesquisa séria.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

segunda-feira, 02 de Maio de 2011

A LUTA CONTRA O TERRORISMO COMEÇA AQUI


Bom dia!

Geralmente começo minha semana, contando como foi meu fim de semana, e na grande maioria das vezes teve candomblé para ir. Nesse domingo houveram trabalhos de descarrego também.

Seguindo para uma realidade mais dura, hoje de madrugada aconteceu algo que vai marcar a história, morreu o líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama Bin Laden, e para aquele que não lembra ele é responsável entre muitos ataques, o de 11 de setembro. E porque falar dele em um blog sobre candomblé? Por que por trás de toda essa ideologia terrorista, existe uma religião, ou a total ausência de uma.

No Brasil, apesar de todo o preconceito com as religiões não-cristãs, ainda sim não ocorrem grandes tragédias, felizmente conseguimos lidar como fato, por exemplo, de todos nos chamarem de “macumbeiros”, “catimbozeiros” ou ainda de “filhos do diabo”.Até hoje, que eu saiba, nunca houve um atentado ao líder da Igreja Universal, Edir Macedo que tanto ataca a umbanda e o candomblé, usando grandes meios de comunicação, como a TV e jornal, e com isso conseguiu arrebatar milhões de seguidores, mesmo que precisem subestimar a inteligência alheia indo contra a própria bíblia que diz: “não julgai, para não ser julgados” - Lucas capítulo 6, versículos 36 a 38. Ou até mesmo usando receitinhas da umbanda, como o sal grosso e o sabonete de arruda, e até onde me lembro, não vi nenhuma citação sobre esse tipo de “descarrego” na bíblia. Como fé é fé, e cada um crê no que quer, não vale à pena fazer uma critica mais acirrada. Só acho uma pena que eles não tenham consciência de que são exemplos e que com que falam podem incitar a violência, E para que ligar para a violência, não é mesmo, se eles estão vivendo em suas casas luxuosas, com seus carros brindados.

O terrorismo é um câncer do mundo moderno, ele nasce da exclusão, do preconceito, do ódio e cria cada vez mais força, como foi o caso do autor da tragédia de Realengo. O que podemos fazer é tentar educar nossos filhos, dentro de uma fé, ensiná-los o certo e o errado, e observar nossos jovens, sendo dentro de uma igreja ou dentro de um candomblé, pois cada vez mais grupos radicais estão surgindo, sendo na Palestina, ou nos centros metropolitanos do Brasil, pode ser um ato pequeno ou grande, não importa, são vidas que estão em jogo, e nós lideres espirituais temos que sair da “zona de conforto” e nos impor contra a origem desse “câncer”, contra o preconceito e a discriminação, para que não surjam novos “Wellingtons”.

Uma ótima semana!