Eu tava pensando em algo para escrever que realmente ajudasse os abiãs, ou até mesmo os yaôs, e decidi falar hoje sobre “transe”, vulgarmente chamado de “baixar o santo”. Todos nós que hoje recebemos nosso orixá, sabemos que não é apenas ligar um botãozinho e ir. Não! É um período muito delicado, antes de passar por esse passo, temos dúvidas, mas quando passamos surgem dez vezes mais de perguntas e sobre isso que vamos discutir.
Primeiro que temos que entender que o transe em seu orixá, é particular, não existe receita. Mas temos como tentar ajudar o filho, o irmão. O que é receber a energia do orixá? Quando somos iniciados, ou até mesmo antes, entramos em contato com a energia do orixá, através do estado de transe, onde perdemos os sentidos e através da nossa matéria essa energia se manifesta, lembrando que o transe está presente em quase todas as religiões.
A quem diga que não é correto um abiã receber seu orixá, eu já vejo por outro ponto de vista, acredito que para o santo não tem regras, por mais que queiram impor. Baseamos-nos lógico nos ensinamentos dos mais velhos, porém temos que nos atentar às exceções.
Todo o ato da iniciação consiste em ligar você a seu orixá, por isso que primeiro tiramos o ebó, para que nenhuma energia negativa possa atrapalhar bory, para preparar o ory e barué para realmente invocar essa energia e te reconstruir o cordão umbilical que te liga com passado, com o divino. Após esse período o iniciado, terá os prefurés, onde aprenderá a dança, as cantigas e também a lidar com a energia do seu orixá. Só que tudo isso não mecânico assim, temos que ter carinho e cuidado, afinal começa surgir dúvidas, como: Será que eu recebo?...Será que é o orixá, ou eu mesmo?...Será que estou mentindo, ou fingindo? – Esses questionamentos são super normais, não fique com medo de falar.
Antigamente, os mais velhos nos ensinavam que quando estávamos em transe, não poderíamos ouvir ver ou lembrar-se de nada, senão não era santo, e com isso o Yao crescia com essa idéia, e muitos até desistiam da religião, com o passar do tempo, fomos abrindo a cabeça e como disse antes o transe é muito particular. Eu acredito que o fato de você enxergar ou ouvir quando está em transe não quer dizer que a presença do seu orixá não está ali. Temos que entender que essa energia vem da natureza, do ar, da água, do fogo e é muito forte, se ela te tomasse por completo, você provavelmente não sobreviveria, afinal imagina nosso corpo tão limitado ser capaz de absorver o poder de um vulcão. O que recebemos é uma energia como um fio de cabelo que tomar todo nosso corpo. E quando “fazemos o santo”, aprendemos a não colocar nossa vontade na frente da vontade do orixá, por isso criticam o fato de um abiã receber orixá, ele não estando preparado pode influenciar colocar na frente o seu querer.
Outro fato que ouço bastante é a vergonha, do orixá não saber dançar, ou fazer algo errado. Não tenha medo! – Só coloque na sua cabeça que o orixá usa seu ory, seu corpo, e seus sentidos, então por não se intimide. Vou falar uma frase que ouvi de uma grande zeladora: “Orixá é como uma pedra bruta, precisa ser lapidada com carinho”. Vou você nunca perguntou por que o mesmo orixá, dança de maneira diferente de casa para casa, de nação para nação?
O importante é que você se doe realmente, treine as danças se esforce para que quando seu orixá chegue, seu corpo esteja preparado para receber essa energia tão fantástica, não enigmática. A quem diga que não gosta de receber “santo”, eu gosto é como se fosse um ebó para mim. Uma dica que eu dou para sua vida religiosa, é que nunca fique com dúvidas, sempre pergunte sobre tudo, só o conhecimento nos tira do mar de superstições no qual ainda está mergulhado o candomblé.
Um abraço e até a próxima.